terça-feira, 17 de junho de 2008

A Rapadura é doce mas não é mole não: A vida na cidade grande, parte I.


Ah, São Paulo, São Paulo... minha terra da garoa! Não és Maria, mas é cheia de graça. Não és Minas Gerais, mas quem te conhece também não esquece jamais! Esta menina dos olhos da nação brasileira, a maior e mais rica cidade da América do Sul, possui algumas características muito expressivas: abrange uma área de 1.522,986 km², possui uma população de aproximadamente 11 milhões da habitantes, densidade populacional de 7.148,1 hab/km² , PIB bruto estimado em 270 bilhões de reais, com equivalente per capita em R$ 24.174,59, o que equivale a aproximadamente 12,26% do PIB brasileiro e 36% de toda produção de bens e serviços do Estado de São Paulo, além de ser a 18ª colocada no ranking de IDH do estado. Tais aspectos, porém, geram efeitos que vem enchendo de adrenalina, nervoso, ansiedade, cansaço e estresse o coração do paulistano, ao invés de orgulho e satisfação. De uma gama de assuntos, me aprofundarei em um, que é o mais lembrado das 6 às 9 da manhã e das 5:30 às 8 da noite: O CONGESTIONAMENTO !!!

O caos é geral! Não há uma só via com pelo menos 2 faixas de rolamento que não sofra os efeitos do trânsito. Se há uma certeza na vida de todo o ser humano, que é a morte, para o paulistano, há três: A morte, que ele vai sofrer no trânsito de manhã e mais um pouquinho no do fim da tarde... Mas não pára por aí não: o sofrimento pode ser ainda mais emocionante durante o verão, quando ocorrem aquelas “chuvinhas” que o Pedrão lá em cima, muito do brincalhão, tem de mandar bem no fim da tarde, pra dar uma força bem legal pro pessoal ficar bem Zen... Aí entra o Rei Roberto Carlos em cena, dizendo: “São tantas emoções... HE HE HE..” ... E a qualidade de vida na cidade grande só despencando ladeira a baixo...

Não só em São Paulo, mas outras cidades como o Rio de Janeiro e Belo Horizonte já estão tendo suas sentenças declaradas por especialistas, prevendo o travamento total do trânsito em um período de 5 anos. Daí, quando a gente espera um projeto brilhante, com toda a nossa criatividade tupiniquim, reconhecida no mundo todo, que possa nos livrar desta previsão macabra, o câmara dos vereadores me vem com papo que é mais ou menos assim: criar uma espécie de “rodízio perpétuo” na cidade, com carros com final par sendo tolhidos com 2 horas a mais de restrição, uma de manhã e outra a noite, nos dias pares de anos pares, o análogo ocorrendo para os carros com final ímpar. HEEEELLLLOOOOOOO!??!?!?! Vocês acham que vivemos na França, Itália, Alemanhã, onde podemos contar com um transporte público de qualidade e que nos leva a qualquer canto que pretendemos ir?? Vocês, políticos desta cidade, a grande massa ACÉFALA da nossa população, acham que o paulistano vai deixar o carro em casa e vai pro trabalho de que jeito? A pé?? Porque nos ônibus não vai dar pra entrar, quiçá no metrô! É brincadeira um negócio desses....

Falando em Metrô, vou pegar justamente seu exemplo, por ser o meio de transporte mais importante da capital, sem o qual a cidade travaria em todos os sentidos. É responsável por transportar cerca de 3 milhões de pessoas por dia, quase 30% de toda a população, cobrindo uma extensão de 60 km, aproximadamente, que, apesar de muito pouco, em face do tamanho da cidade, são fundamentais para que as pessoas cheguem aos seus destinos com relativa rapidez.
Abaixo, temos um esboço da área interna de um vagão do Metrô:


Na verdade, este esboço representa 1/4 de um vagão, correspondente ao seu início. Possui 8 bancos (em laranja) e duas portas (em cinza), metade destes valores para cada lado. Inconformado com o fluxo de pessoas na estação Barra Funda no horário de pico da tarde, principalmente entre as 18 e 19 horas, resolvi fazer um levantamento estatístico “por cima”, durante uns 2 meses, só para ter idéia da ordem de grandeza de alguns valores. Bem, após enfrentar uma fila grotesca para entrar no vagão, sempre procurava me dirigir à região correspondente ao intervalo entre os primeiros bancos para facilitar a contagem das pessoas, conforme a seguir:


Para esta região do vagão, eu conseguia contar cerca de 15 pessoas, em média, na região entre os bancos (além de mim, claro) e 30 na região entre as portas:


Considerando as pessoas sentadas (que conseguiram tal façanha após um combate que envolve perspicácia, astúcia, jogo de corpo, malandragem, salpicado por uma pitada de falta de respeito e, não raramente, sangue, e cujo resultado pode variar de acordo com o grau de sarcasmo do condutor do trem naquele dia em parar após ou antes da marcação das portas feitas no chão, deixando o combate ainda mais compacto e disputado), o total de pessoas nesta área do vagão seria, em média, determinado por: total de pessoas sentadas + total de pessoas na região entre bancos + total de pessoas na região entre portas = 8 + 15 + 30 = 53 pessoas.

Tendo em vista também que, neste horário, nesta estação, a preferência do embarque nas áreas dos vagões e entre os vagões em si é a mesma, visto que a situação é péssima pra todo mundo em todos vagões e em todas as áreas, assumirei que essa distribuição se repita no restante dos vagões do trem. Teremos, assim, o seguinte esboço da visão de um vagão completo:


Perceba que temos, em relação ao 1/4 de vagão anteriormente apresentado, para um vagão completo, os seguintes elementos:
· 8 regiões entre bancos (A)
· 4 regiões entre portas (B)
· 64 bancos (C)

Logo, o total de pessoas em um vagão seria dado por: A + B + C = 8*15 + 4*30 + 64 = 304 pessoas. Sendo um trem composto por 6 vagões, chegamos ao valor final de 6*304 = 1824 pessoas sendo transportadas ao mesmo tempo em um único trem entre as 18 e 19 horas, rumo à próxima estação, que é a Marechal Deodoro. Para quem sabe o que essa ordem de grandeza significa na prática do dia a dia, sabe muito bem a árdua tarefa que os passageiros da estação à frente terão de enfrentar para adentrar no trem...

Entretanto, este cenário pode ser alternado por um outro, onde as leis de Newton e da termodinâmica se fazem mais presentes em toda horda, que apresentarei em continuação à esta edição.. Aguardem!!! :-)

Leandro Totti Feijóo - 17/06/2008
Tudo vale a pena, se a alma não é pequena... Fernando
Pessoa

5 comentários:

Anônimo disse...

Opa! Achei mto legal seus desenhos. De fato eu vi uma materia no jornal, o metro de sao paulo esta assim:
Linha vermelha = 9 a 10 passageiros por m²
Linha azul = 6 a 7 passageiros por m²
Linha verde = 5 a 6 passageiros por m²

Outra coisa que tambem já notei: as pessoas ficam na regiao das portas e nao vao para o corredor do vagao.
Já vi lugares vazios enquanto na regiao das portas é um espreme espreme...

Mas fazer o que? Só vai melhorar quando existir uma malha de metros.

Camila disse...

O que me questiono todos os dias é: o que podemos fazer? E desta lista de respostas, o que efetivamente fazemos?
Continuo com a minha opinião de que a melhor saída para todos será criarmos oportunidades fora da cidade. Não cabe tanta gente aqui.

Meinberg disse...

Muito bom o texto!

Parabéns!

Anônimo disse...

ahhhhhhhh
adorei os desenhinhos....mto fofo!!!!
Ah, o texto tb tah legal...hehehe
Beijos lindo!!!
Soh vc mesmo pra fazer estatística no horario de pico do metro!!!!

Anônimo disse...

Então...
A "massa acéfala" dos políticos não se preocupa com o povo, verdadeiro detentor do poder e, ainda, destinatário de seu exercício, trocando em miúdos:
A Casa Grande não se preocupa com a Senzala . A reposição dos escravos é muito fácil. Ademais, não temos memória, infelizmente.
Ainda assim, temos voz e, como disse acima: poder.